quinta-feira, 8 de julho de 2010

Arquitetura Funcional

Não gosto de arquitetura nova
Porque a arquitetura nova não faz casas velhas
Não gosto das casas novas
Porque as casas novas não têm fantasmas
E, quando digo fantasmas, não quero dizer essas
assombrações vulgares
Que andam por aí…
É não-sei-que de mais sutil
Nessas velhas, velhas casas,
Como, em nós, a presença invisível da alma…Tu nem sabes
A pena que me dão as crianças de hoje!
Vivem desencantadas como uns órfãos:
As suas casas não têm nem porão nem sótãos,
São umas pobres casas sem mistérios.
Como pode nelas vir morar o sonho?
O sonho é sempre um hóspede clandestino e é preciso
(Como bem sabíamos)
Ocultá-lo da visitas
(Que diriam elas, as solenes visitas?)
É preciso ocultá-lo das outras pessoas da casa,
É preciso ocultá-lo dos confessores,
Dos professores,
Até dos profetas
(Os profetas estão sempre profetizando outras cousas…)
E as casas novas não têm ao menos aqueles longos,
Intermináveis corredores
Que a Lua vinha às vezes assombrar!



Mario Quintana

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